Por que a dependência química é considerada uma doença crônica

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Por que a dependência química é considerada uma doença crônica

A afirmação de que a dependência química é uma doença crônica não é simbólica — é científica. Ela está amparada por estudos neurológicos que comprovam que o uso abusivo de álcool ou drogas altera a estrutura, o funcionamento e as respostas do cérebro. Essas mudanças criam um padrão de comportamento que se torna persistente, recorrente e difícil de controlar sem tratamento profissional.

Assim como diabetes, hipertensão e outras condições crônicas, a dependência exige acompanhamento contínuo, tratamento estruturado e mudanças permanentes no estilo de vida. Não se trata de falta de força de vontade, e sim de um adoecimento complexo que envolve genética, ambiente, emoções e comportamento.

Como o álcool e as drogas alteram o cérebro?

O cérebro funciona por meio de neurotransmissores — substâncias químicas responsáveis por prazer, motivação, atenção, autocontrole e regulação emocional. Quando a pessoa consome álcool ou drogas repetidamente, essas substâncias externas inundam o circuito de dopamina, provocando sensação artificial de prazer.

Com o tempo, o cérebro passa por transformações como:

  • diminuição da produção natural de dopamina

  • redução da sensibilidade aos prazeres naturais

  • prejuízo no autocontrole

  • aumento da impulsividade

  • dificuldade em sentir motivação sem a droga

  • alteração na tomada de decisões

Isso explica por que o dependente não consegue simplesmente “parar quando quiser”.

O Circuito da Saúde oferece conteúdos que mostram como o álcool compromete funções cognitivas e altera o sistema cerebral:
https://circuitodasaude.com.br/noticias/o-alcool-compromete-funcoes-cognitivas-e-altera-o-sistema-cerebral/

Por que é uma doença crônica?

Uma doença é considerada crônica quando:

  • tem evolução prolongada

  • exige tratamento contínuo

  • apresenta risco de recorrência

  • não possui cura imediata, mas é controlável

  • requer mudanças de vida permanentes

A dependência química se encaixa em todos esses critérios.
Mesmo após semanas ou meses de abstinência, o cérebro ainda pode apresentar:

  • memórias associadas ao uso

  • gatilhos emocionais

  • vulnerabilidade a recaídas

Por isso, o tratamento precisa ser constante e multidisciplinar.

Fatores que tornam a dependência persistente

Existem fatores biológicos, emocionais e sociais que contribuem para a cronicidade da doença.

Vulnerabilidade genética

Algumas pessoas têm predisposição maior para dependência devido ao histórico familiar.

Fatores emocionais

Traumas, ansiedade, depressão e baixa autoestima aumentam a busca por alívio químico.

Ambientes tóxicos

Lares conflituosos, amizades que incentivam o uso e contextos de violência dificultam a recuperação.

Neuroadaptação

O cérebro se adapta ao uso constante e cria uma “necessidade química”.

Recompensas imediatas

A droga oferece prazer rápido, o que reforça o comportamento de repetição.

Abstinência não é cura

Um dos maiores erros é acreditar que ficar sem usar por alguns dias representa cura.
A abstinência é apenas o início do processo.
O dependente precisa aprender a:

  • regular emoções

  • identificar gatilhos

  • reestruturar comportamentos

  • reconstruir autoestima

  • criar nova rotina

  • desenvolver habilidades sociais

Sem essas ferramentas, o risco de recaída é alto — e isso reforça a característica crônica da doença.

Por que recaídas acontecem?

As recaídas fazem parte da evolução natural das doenças crônicas.
Na dependência química, isso ocorre por fatores como:

  • estresse emocional

  • ambientes desencadeadores

  • lembranças associadas ao uso

  • falta de suporte

  • impulsividade

  • baixa motivação

A recaída não significa fracasso, e sim a necessidade de ajustar o tratamento.
Assim como uma pessoa com hipertensão pode ter picos de pressão, o dependente pode ter picos emocionais que exigem reforço terapêutico.

Como tratar uma doença crônica como a dependência?

O tratamento envolve três pilares:

1. Cuidados médicos

Para estabilizar o organismo, reduzir sintomas e tratar transtornos associados.

2. Psicoterapia

Ajuda a reprogramar padrões emocionais, comportamentais e cognitivos.

3. Mudança de estilo de vida

Inclui rotina disciplinada, novas atividades, rompimento com ambientes de risco e práticas de autocuidado.

Clínicas de recuperação especializadas trabalham exatamente nessa tríade — garantindo que o paciente desenvolva autonomia emocional para viver sem a substância.

O papel da família

Como doença crônica, a dependência exige que a família seja tratada também.
Conflitos, julgamentos, permissividade ou falta de limites podem prejudicar todo o processo.
A família precisa de:

  • orientação

  • psicoeducação

  • acompanhamento terapêutico

  • mudança de comportamentos

Somente assim o paciente encontra um ambiente saudável para se manter firme após a alta.

Conclusão

A dependência química é uma doença crônica, e reconhecer isso transforma completamente o tratamento.
Quando entendemos que não se trata de fraqueza, mas de um adoecimento profundo e persistente, abrimos portas para uma recuperação mais humana, estruturada e eficaz.
Com acompanhamento adequado e apoio contínuo, é possível reconstruir a vida e alcançar estabilidade duradoura.


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